Humberto Santos Azevedo
CADEIRA #59
N/A.
Patrono: MARIA JOSÉ CARVALHO VIANA
Maria José Carvalho Vianna (Maria Carvalho – Fia)
Bom Despacho era sua cidade natal, mais precisamente, uma fazenda às margens do Rio Picão, no oeste Mineiro.
Ali vivia o casal Paulo e Maria Francisca, o vovô Paulino e a Vovó Chica, e seus 14 filhos, ressaltando entre eles os três Paulinos e as três Marias.
A nossa, a Maria Carvalho, era a Fia, a Maria do Meio, a mais bonita e a mais inteligente de todas as filhas do casal.
Não demorou muito que o dentista protético (José Corgosinho de Carvalho), que repassava e arrancava dentes na redondeza, fizesse ponto na fazenda de um tio e logo ficasse apaixonado pela beleza e vivacidade da beldade da roça.
E que romance tumultuado tiveram eles até que o velho Paulino consentisse o casamento, que iria modificar, inclusive, a vida de todos os componentes da numerosa família.
Foi a Fia morar em Martinho Campos. Embrenharam-se pelo norte de Minas, levando os filhos em cajás dependurados nos lombos de burros.
Quantas histórias de aventuras que superam a própria imaginação!
Finalmente se estabeleceram na cidade natal – Bom Despacho – e resolveram enfrentar, o casal, uma guerra que levou anos. Tinham, ambos, apenas o curso primário e, de repente, souberam que no sul de Minas Gerais uma escola admitia curso livre de Odontologia e Farmácia. Resolveram; seriam ambos doutores. Arranjaram professores e, cuidaram dos três filhos (os outros três nasceriam mais tarde). Enfrentaram o Madureza. Não era fácil estudar naqueles tempos. O Ginásio, só nas capitais, mas os dois aventureiros se lançaram à guerra. Quando finalmente se diplomaram no ginasial, estavam cansados, porém tinham conseguido eliminar, em parte, os vícios de linguagem rural e aumentar a ambição de conquistar o canudo de um curso superior.
Alfenas era a meta.
Poderiam desistir, mas eles sabiam o que realmente queriam e começou para eles uma vida diferente.
Trabalhavam duro seis meses e viajavam para estudar. Um de cada vez.
Pegavam o Maria Fumaça em Bom Despacho e viravam o dia para chegar em Belo Horizonte,onde pernoitavam.No dia seguinte, a bitola larga os levaria a Alfenas depois de um dia e meio de estafante viagem. Revezavam, no estudo e finalmente o famoso dentista prático, bonitão, conquistador , simpático e conservador virou o famoso Dr. Corgosinho e disto tinha orgulho, ostentando um extraordinário anel de formatura e um diploma de pergaminho.
Logo continuou a vida tumultuada do casal. A Fia se deslocava, levando um filho e ficava em Alfenas três meses de estudo.
Quando finalmente conseguiu seu Diploma de Farmacêutica, tornou-se a rainha da sociedade bom-despachense, uma heroína de verdade. Depois vieram os outros filhos e outros problemas.
Ninguém melhor para ser modelo e símbolo de luta pelo estudo do que a célebre Fia, a nossa Maria Carvalho.
Ressaltar o sacrifício que fez para enfrentar o curso ginasial a partir de um primário rural, e um curso de Madureza com professores capacitados aqui e ali e pagos a peso de ouro, é valorizá-lo. Bem podemos aqui aquilatar o grande amor que os nossos pais nutriam pelo estudo.
A batalha que enfrentaram para ostentar um anel de curso superior e um pergaminho, que era seu maior tesouro, depois dos filhos,é alguma coisa que nem nós, seus descendentes, podemos avaliar.
Sem dúvida alguma, se eles pudessem optar e se ela estivesse viva, diria: “Eu até pediria esmolas para educar e instruir meus filhos e não seria em vão”.
Qualquer um que aqui entrar há de avaliar o heroísmo e a verdadeira história daquela que é patrona desse colégio.
Dr. José Corgosinho de Carvalho Filho.
Casal José C. de Carvalho e Maria Carvalho, com os filhos. Embaixo, da esq. p/a dir.: Mírian e Tina; em cima (da esq.p/a dir.): Ester, Geraldino, José Carvalho e Maria José.
Fonte: Correio de Belamira, nº 21 jan/jun 87.
N/A.